quarta-feira, 21 de julho de 2010

À l'hotel blafard


- Simulacro de um simulacro - pensei,
ao ver teu braço de mármore,
presa nos espelhos da memória,
bela e fria como uma flor de estufa.
Por muito tempo te procurei:
em portas atrás de portas, em salões vazios,
em corredores sombrios, decorados ao gosto de uma outra época,
em câmaras labirínticas dentro de meus nervos túmidos.
Somos como duas estátuas
desconhecidas,
perdidas,
no vazio
de um jardim
suspenso e esquecido.
E que, em outra vida, ainda
choram a paixão apenas sonhada.
Num espetáculo estático, vozes sonolentas me sussurram
sons sôfregos e insensatos, cujos donos são fantasmas noctâmbulos que,
subitamente, de espanto são mudos.
Qual a decoração
inerte,
perene,
cadente,
eles me espreitam,
sombrias sombras,
feitas de querubins de marfim
com folhas mortas e rosas enrodilhadas
em botão, como pequenos cérebros apodrecidos, nesse hotel taciturno.
Filhos deste odioso castelo de uma época distante,
silencioso como um túmulo.

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