Era uma vila estranha e taciturna.
Assim diziam os antigos moradores do local.
Seres cadavéricos, moribundos, de horrível turba,
à noite sussurravam à espreita de algum mal.
As casas mais pareciam mórbidos caixões,
plantados na terra crua como cruzes em um cemitério,
deixavam entrever grandes e sombrios porões,
lugares sagrados para martírio e mistério.
Ungidos por uma religiosidade pagã,
os habitantes reuníam-se a cada terceira Terça
para celebrarem sua cultura mátria e anciã,
oferecendo punição severa a todo aquele que a mereça.
Somente a dama das águas floresceu
nesta terra longínqua e inóspita.
De terrores e medos alimentou-se e cresceu
a mais bela mulher, que pela Terra passou, intacta.
Glória, menina e senhora, em seus dezesseis anos,
tão fresca e suave como alvos lírios.
Sua pele, uma límpida seda tecida por Eros.
Seus lábios, doces romãs, belos como círios.
A jovem vivia, distraída, os dias de um verão largo.
À noite, ia para seu secreto esconderijo:
um majestoso lago às margens de um alto penhasco.
E dançava, e cantava, sob a luz da Lua, como num rito.
Em sua companhia estava sua terna e eterna amiga,
Tereza, e com ela inventava muitas estórias.
Contavam parábolas, sonhavam e faziam rimas.
Juntas descobriam da natureza, as suas magias.
Porém, Tereza, a menina de cabelos de fogo.
Das outras jovens era muito diferente,
e recusava-se a seguir os comandos de todos.
Gostava da mata, do lago, da Lua, distantes daquela gente.
Tereza e Glória pensavam em correr e fugir.
Tereza, muitos acusavam de bruxa, feiticeira,
por ser livre, independente e a natureza seguir.
Até que um dia, a ela anunciaram a hora derradeira.
Tereza capturaram e prenderam, covardes!
Glória em desespero e agonia, do penhasco se atira...
e seu corpo tão alvo, sob a luz da Lua, em claridades,
adormece, no lago, ao lado de Tereza enforcada e tão branca...